Você votaria no candidato Picareta? Elegeria um candidato Safado? Ou na hora do voto opta por quem é Transparente? Calma lá, isso não é um texto de panfletagem política nem um manifesto pelo voto consciente, por mais cabíveis ou justos que esses fossem para a época. Picareta, Safado e Transparente, creia, são nomes de registro de alguns dos candidatos que os eleitores terão como opção nas eleições para prefeito e vereadores nas 5.568 cidades que vão às urnas no próximo dia 7 de outubro.
O uso de apelidos é permitido pela legislação eleitoral no registro da candidatura, e quem escolhe como prefere ser apresentado aos eleitores são os próprios candidatos. A ferramenta de busca por candidatos no site do UOL Eleições, alimentada por dados da base do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), pode ser uma diversão para o internauta. O cardápio é vasto entre os mais de 480 mil registros de candidaturas para prefeito, vice e vereador registradas no tribunal.
Os candidatos citados no início e no decorrer deste texto são reais. Eles chamam a atenção, especialmente, pelo fato de que adotam apelidos que muitos políticos não gostariam de ver associados a seus nomes, ou que poderiam ser classificados como "bullying" caso não fossem as escolhas dos próprios candidatos. Faça uma busca, por exemplo, por palavras como picareta ou safado na base de dados de candidatos e olha o que vem:
Eles estarão nas urnas
- Picareta, candidato a vereador pelo PTB em Bicas, município de pouco mais de 13 mil habitantes no sudeste de Minas Gerais. Paulo Murilo de Oliveira, 50, é o nome de nascimento de Picareta.
- Safado, apelido de Evangelista Ricardo, comerciante em Divinópolis (MG) que quer ser eleito vereador pelo PSB, na coligação "Renasce a Esperança". Ele optou por registrar para a urna o nome com o apelido: Evangelista Safado.
Não são só os nomes supostamente negativos que se destacam. A busca por um termo como "transparente", algo que se espera de políticos, por exemplo, apresenta uma candidata:
- Transparente, adjetivo que Clara Lucia de Andrade escolheu para associar ao nome, na esperança de dar "mais força" à sua candidatura. Clara Transparente concorre pelo PSC em Uberlândia (MG).
Bancada do terror
A busca por nomes estranhos aguça a curiosidade. Soltar um pouco a imaginação proporciona descobertas inusitadas no banco de dados de candidatos. Fossem todos da mesma cidade e conquistassem votos suficientes para uma cadeira no Legislativo municipal, poderíamos ter uma "bancada do terror" em alguma Câmara Municipal: Vampiro, Fantasma, Chupa-Cabra, Monstro, Zumbi, Bruxa e Morto-Vivo, todos são candidatos. Uma imaginária "bancada do folclore nacional" também teria seus representantes: Saci-Pererê, Lobisomem, Curupira, Caipora.
A bancada dos bichos, então, seria fortíssima: tem Gato, Cachorro, Girafa, Baleia, Papagaio e até Dinossauro.
Se o eleitor quiser um candidato mais personalizado, pode ficar com o Original ou com o Diferente. Se não fizer muita questão, pode escolher o Genérico.
E quem poderia imaginar como representantes no parlamento a Maria Gostosa e o Raimundo Gostoso? Não é aconselhável adotar a aparência como critério principal de escolha de alguém que vai tomar decisões pelo destino dos moradores da cidade, mas, se este for o caso, há como escolher entre o Feio e o Bonito.
Para sorte dos eleitores, não tem candidato Ladrão nem Corrupto.
O que diz a legislação
O nome usado na urna eletrônica, segundo o artigo 30 da Resolução 23.373/2011, que dispõe sobre a escolha e o registro de candidatos nas eleições, pode ser o apelido ou o nome pelo qual o candidato é mais conhecido. As únicas restrições são: não ultrapassar 30 caracteres, não estabelecer dúvida quanto à identidade do candidato, não atentar contra o pudor e não ser "ridículo ou irreverente". Os nomes citados nesta reportagem são de candidaturas deferidas pela Justiça Eleitoral. Portanto, são nomes que não foram considerados ridículos ou irreverentes.
Ok, há muita gente que associa o termo "picareta" a pessoas aproveitadoras, que usam meios condenáveis para obter o que desejam (o dicionário Houaiss classifica esta definição como regionalismo), e há quem goste de dizer por aí que políticos são "picaretas". Picareta, acima de tudo, é uma ferramenta de trabalho, uma peça de ferro com duas pontas aguçadas, que se prende a um cabo de madeira e serve para escavar a terra, arrancar pedras etc. Usar apelidos como este e Safado, se são as maneiras pelas quais os sujeitos são conhecidos, parece justo. Mas devem ter passado pelo crivo de algum escalão da Justiça Eleitoral para que não fossem considerados irreverentes, no mínimo. Transparente, adjetivo da moda em política, também não infringe a lei.
Irineu Machado
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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