Nos dias e meses seguintes ao Carnaval, as queixas de zumbido e de perda auditiva tornam-se mais frequentes nos consultórios médicos. Não é difícil imaginar a razão: A exposição prolongada ao som emitido por escolas de samba, trios elétricos, blocos de rua e bailes chegam à casa dos 120 decibéis - quando 85 é o volume considerado seguro para a audição. Para piorar, a ingestão excessiva de álcool também afeta o ouvido de pessoas suscetíveis.
A boa notícia é que, ao contrário do que se acreditava até recentemente, os danos podem ser revertidos se o tratamento for iniciado logo depois.“O risco de ter um problema é maior quando à bebida alcoólica se junta o som alto, por isso o Carnaval é a festa que mais afeta a audição. No Réveillon, os fogos duram algumas horas, mas agora são quatro dias e um grande número de horas consecutivas no clube, na escola de samba”, afirma Tanit Ganz Sanchez, chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas de São Paulo e presidente do Instituto Ganz Sanchez. Ela estima que, nos três meses subsequentes ao feriado, as queixas auditivas se tornem 10% mais frequentes.
Mesmo que o zumbido já tenha desaparecido na Quarta-feira de Cinzas, é preciso cuidado. “A pessoa vai dormir com zumbido e ele desaparece no dia seguinte, dando uma sensação falsa de que nada aconteceu. Mas deve-se procurar um otorrino porque, com medicamentos administrados até 48h depois, o risco de lesão definitiva diminui”, diz Sanchez.
O incômodo surge porque a exposição continuada a músicas e ruídos em alto volume irrita e destrói gradativamente as células auditivas, o que provoca um ruído de fundo ou zumbido - o primeiro sinal de que a audição foi afetada. “No Carnaval, a pessoa está exposta todo o dia, toda a noite, e os sons são cada vez mais altos”, diz Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, otorrinolaringologista do Hospital Albert Einstein. “Além do zumbido, que é mais usual, pode haver sensação de pressão”.
Em alguns casos, a perda é pequena e não chega a interferir nas atividades do dia a dia.
Segundo o otorrinolaringologista Manoel de Nóbrega, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a exposição contínua à música em alto volume pode causar uma perda irreversível. “Em um show a 120 decibéis, em tese a pessoa pode ficar até 15 minutos sem risco de lesão”, explica. “Para quem é suscetível, os quatro dias do Carnaval já são prejudiciais”.
FolhaPress
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