“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”, Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente |
Um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o papel da oposição na política brasileira causou mal-estar ontem no PSDB e nos partidos de oposição. Também causou surpresa no PT e nos aliados da presidente Dilma Rousseff. O DEM e o PPS discordaram radicalmente da avaliação do ex-presidente de que a oposição deve desistir de buscar o “povão” e conquistar a classe média.
No fim do dia, o líder do PSDB na Câmara Federal, Duarte Nogueira (SP), afirmou que trechos do artigo de FHC foram divulgados distorcendo a análise feita pelo ex-presidente. Parte do artigo foi objeto de reportagem do jornal Folha de S. Paulo. A íntegra será publicada amanhã.
No artigo, o ex-presidente afirma que a oposição deveria desistir de conquistar as camadas mais pobres do eleitorado e se voltar para a nova classe média, fruto do crescimento econômico dos últimos anos.
“O nosso caminho é exatamente o oposto. É aproximar o nosso discurso e nossas ações às camadas mais populares da sociedade”, afirmou o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). “Todo partido tem de ter a capacidade de criar conexão com todas as classes. É ruim fazer política excluindo o foco nessa ou naquela camada da população. Nosso desafio é outro. É tirar a oposição do discurso teórico do Congresso e levar para a prática das ruas”, completou.
Com ressalvas de que não havia lido a íntegra do artigo, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire afirmou: “É um equívoco. Não temos de abdicar de ninguém”.
O artigo surpreendeu o PT. “É um artigo desfocado, estranho. Se não dialogar com o povo, vai dialogar com quem? Parece que o ex-presidente considera que não está mais nesse mundo e se sente liberado para dizer isso”, afirmou o senador Walter Pinheiro (PT-BA).
O senador Alvaro Dias (PSDB), líder da oposição no Senado, também disse discordar do discurso de FHC. “Ele foi eleito duas vezes justamente com o apoio das classes mais pobres”, afirmou, por telefone, à Gazeta do Povo. “Um partido com sensibilidade social deve defender essas classes, que formam a maior fatia do eleitorado brasileiro.”
Em Maringá, no Noroeste do Paraná, Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem pontos que constam de seu artigo. Disse que a oposição, e em especial o PSDB, precisam ter um posicionamento claro sobre os assuntos que habitam o cenário político brasileiro. Com essa postura, os partidos devem se manifestar diante das decisões que forem tomadas pelo governo de Dilma Rousseff. “A oposição tem de ter posição”, disse.
Durante a coletiva, FHC disse também defender que a oposição não foque apenas na briga pelo poder. Para ele, é importante que os partidos se aproximem das classes sociais que, com o tempo, deixaram de se interessar pela política. Um caminho é discutir questões que são consideradas relevantes para essas classes, que ele não definiu quais seriam. “Gostaria muito que o PSDB buscasse essa aproximação”, confessou.
Em relação ao governo de Dilma Rousseff, FHC afirmou que é muito cedo para fazer uma avaliação do desempenho da presidente.
Thiago Ramari, da Gazeta Maringá
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