Na sociedade de consumo estamos abarrotados de objetos, todos adquiridos pelo desejo, mas que tem prazo de validade curto. O que buscamos pela compra sedutora se empilha quando perde o brilho sedutor. Nosso lixo é a memória dos sonhos que se realizaram e não cumprem mais o seu papel de destaque em nossas vidas. O depósito dos fundos da casa está cada vez mais cheio.
Os sonhos transformados em “resto” não são iguais. No último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a renda do brasileiro melhorou. A quantidade de bugigangas dentro de casa e a quantidade de lixo reciclável cresceram consideravelmente. Se o país é emergente, a nova classe média também é. O retrato do Brasil expresso em um segmento social. “Urso que nunca come mel, quando come se lambuza”, comprar, comprar, comprar até fica obeso. Muitos de nós já não enxergam os próprios pés.
Mas se o presente é o consumo, “porque a vida é agora”, segundo a filosofia dos cartões de crédito, o lixo é o nosso futuro. Para alguns, cercados por um mar de restos e urubus, o destino é o dejeto social que se renega ao esquecimento. Em muitos casos é mais fácil reciclar resíduos do que seres humanos.
Silvio Barros II, o prefeito de Maringá, já visitou a Europa e os Estados Unidos, conheceu a indústria de transformação do lixo em energia. Há interessados em nossos resíduos, até nisso ele é diferenciado. Ontem, o poder municipal iniciou uma rodada de negociações com a cooperativa que irá fazer a coleta de vidro. Na mesa de negociação estavam empresários geradores. O poder público vai alugar um galpão e já doou um caminhão para a coleta.
Mas isso é apenas o começo do que virá. A indústria de transformação dos resíduos vai crescer sobre as sobras de nossos sonhos, transformando o que já foi sagrado. Caminhamos para o pagamento de coleta e transformação mensalmente, como a nossa conta de luz, água ou telefone. Aos poucos vamos percebendo que na troca de um sonho imediato realizado por outro, na forma do objeto de consumo, tem conseqüências. O que sai diante dos nossos olhos continua a existir e é preciso resolver isso. Pode parecer infantil, e no fundo é, somos como crianças nos primeiros anos de vida. Tudo o que não está diante dos nossos olhos, aparentemente, não existe. Agora é nosso destino amadurecer e ter que pagar a conta.
Gilson Aguiar - Professor por escolha, jornalista e comentarista por paixão e ousadia. Âncora e comentarista da CBN, professor de Teoria das Ciências Sociais no Cesumar.
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