Abuso de álcool, energéticos e esportes esporádicos são gatilhos da fibrilação arterial, um dos perigos cardíacos
Em apenas um fim de semana o quinto drinque pedido em sequência, a corrida de 5 quilômetros após três anos de sedentarismo ou o abuso de energéticos e drogas sintéticas podem alterar o ritmo das batidas do coração e ser gatilhos de um grave problema cardíaco chamado fibrilação atrial.
Entre os cardiologistas do mundo todo, os efeitos causados por estes hábitos ruins – concentrados em especial nos sábados e domingos – já têm até um nome científico: holiday heart que, em tradução livre para o português, pode ser chamado de “coração de final de semana”.
“É uma síndrome aguda, provocada e associada especialmente ao abuso de álcool que, caso não passe em até 48 horas, exige intervenção médica de urgência, como medicamentos e até choque cardíaco”, explica Denise Hachul, especializada em arritmias e do Instituto do Coração de São Paulo (Incor).
Veja aqui: Como o álcool age no corpo
Uma pesquisa feita pela Universidade de Medicina de Oxford, que revisou a literatura médica sobre os impactos das bebedeiras de final de semana no coração, mostrou que os chamados bebedores pesados (que bebem mais de quatro doses em uma só ocasião) têm risco maior de cardiomiopatia alcoólica, hipertensão arterial sistêmica (pressão alta), distúrbios do ritmo cardíaco e também acidente vascular cerebral (AVC).
Caso o abusador etílico (ou de exercícios) – mesmo que eventual – tiver outros problemas de saúde associados, como obesidade, diabetes e pressão alta, o risco de fibrilação atrial é ainda maior, alerta Guilherme Fenelon, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).
“A fibrilação altera os batimentos cardíacos na parte superior do coração (ele bode bater mais rápido ou mais devagar), o que compromete a circulação sanguínea”, explica Fenelon.
“Os obesos, diabéticos e hipertensos, nesta condição, têm mais risco de formação de coágulos que entopem as veias, o primeiro passo do AVC”, alerta.
Espalhados
No Brasil, os bebedores pesados, que sofrem de doenças metabólicas e pressão alta estão em ascensão. Na faixa-etária entre 25 e 34 anos, os com excesso de peso somam 52% e os que bebem quatro ou mais doses na mesma ocasião são 34%.
O mesmo mecanismo também coloca em perigo os abusadores de exercícios físicos e consumidores de doses altíssimas de estimulantes, como os energéticos. Mas muitas vezes, até chegar às sequelas mais graves, a fibrilação se comporta de maneira silenciosa, sem sintomas.
“Uma das maneiras de saber se está tudo bem com o ritmo cardíaco é checar o pulso e verificar se os batimentos têm constância”, afirma Denise. Mas uma pesquisa da Sobrac, feita com 250 pessoas entre 15 e 86 anos, mostrou que 77% delas não sabem fazer isso.
Casos crônicos
Apesar de preocupante, o “holiday heart” é um evento agudo, mas a fibrilação artrial, na maioria das vezes, é crônica e vai se desenvolvendo com o passar do tempo.
“A partir dos 40 anos, o coração já começa a envelhecer. De uma forma simples, o músculo vai ficando com algumas rugas e estas ruguinhas é que podem resultar na fibrilação”, diz o médico da Sobrac.
Fazer check-ups eventuais e aprender a medir o pulso são formas de tentar evitar as conseqüências mais graves da fibrilação e fazer o diagnóstico precoce.
Como medir o pulso
-Posicione uma das palmas da mão para cima e utilize os dedos indicador e médio da outra mão para localizar o pulso
- Posicione os dedos um pouco abaixo do polegar da mão que está para cima
- Os dois dedos devem ficar posicionados em sentido vertical com o punho
- Conte os batimentos por 10 segundos e multiplique o resultado por 6. A frequência considerada normal é entre 60 e 100 batimentos por minuto
Fernanda Aranda, iG São Paulo
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