segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

::: Chegada de Dilma à Presidência coloca em xeque função de primeira-dama

A vitória de Dilma Rousseff nas últimas eleições não significou apenas a inédita chegada de uma mulher à Presidência do Brasil. Pela primeira vez na história, não há ninguém ocupando o posto de primeira-dama um título que se choca com o perfil das novas gerações, formadas por mulheres independentes, que trabalham fora, chefiam famílias ou são simplesmente divorciadas, como é o caso da própria presidente.
O primeiro casal sempre tentou reproduziu o modelo ideal de família para o resto do país: o homem decide, enquanto a mulher fica com a missão de ser discreta e aparecer embrulhada em grife em eventos com o marido.
A cientista política da UnB (Universidade de Brasília) Ana Alice Costa pesquisadora de estudos sobre a mulher na UFBA (Universidade Federal da Bahia) diz que essa imagem começou a ser questionada no Brasil pela mulher do ex-presidente Juscelino Kubtschek (1956 - 1961), Sarah Kubitschek, "que viajava o tempo todo cuidando de seus próprios interesses". Para, ela a figura de enfeite de primeira-dama" não faz mais sentido.
- Primeira-dama é coisa de coluna social. Um jeito muito tradicional de enxergar a mulher, que há muito tempo deixou de ser essa figura complementar do homem [...] A eleição da Dilma reforça que aquele estereótipo não pode mais ser o padrão. Ela condena o destaque dado à Marcela Temer (28) - mulher do vice-presidente, Michel Temer (70) durante a posse da nova presidente, no dia 1º de janeiro. A beleza da ex-miss Paulínia (interior de São Paulo) e a diferença de idade entre os dois colocaram o nome dela entre os dez assuntos mais comentados do mundo no Twitter por 32 horas, de acordo com o site especializado Twend.it. - Não interessava que uma mulher assumia a Presidência junto com nove ministras. Isso mostra o conservadorismo dessa sociedade e dos meios de comunicação. Além de Sarah Kubtschek, a cientista cita como outro bom exemplo Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Antropóloga de formação, Ruth (morta em 2008) sempre recusou o título de primeira-dama. Assim que o marido assumiu, ela mandou fechar a antiga LBA (Legião Brasileira de Assistência), instituição suspeita de desviar dinheiro público durante a administração de Rosane Collor, primeira-dama nos tempos de Fernando Collor de Mello. No lugar, Ruth usou suas teses acadêmicas e sua experiência com ONGs para combinar ações sociais de empresas e ministérios. O resultado foi o aproveitamento de muitos desses programas no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para a professora, Ruth se destacou porque sabia como atuar socialmente, já que esse sempre foi seu trabalho, ao contrário de outras primeiras-damas, que, diz ela, fazem serviço social contratando assessores para o trabalho duro. É por isso que ela também aprova a postura da mulher de Lula, Marisa Letícia. - Ela foi perfeita. Ela fez o que fez a vida toda: cuidou do Lula e da família. Ela não tentou assumir um papel que não era a história dela.
R7

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