terça-feira, 15 de novembro de 2011

::: NOVA ESPERANÇA - De volta ao casulo

Alta no preço médio da produção faz produtores rurais retornarem à sericicultura no Paraná
Bruneli em meio às amoreiras (alimento do bicho-da-seda): alternativa à pecuária


Marcos Perin, sericicultor há 20 anos, pensou em desistir mas insistiu na atividade

Com produção 8% maior neste ano, o Paraná revigora a sericicultura e preserva a liderança nacional no setor. A expectativa é de que sejam produzidos 3,2 milhões de toneladas de casulos no estado, 90% do volume nacional. O setor prevê avanço de 20% em 2012 no estado, com o retorno de agricultores à atividade.
Nesse clima de expectativa, a capital nacional da seda, Nova Esperança (Noroeste do Paraná), realiza nesta semana uma feira nacional de negócios. A 1ª Feira Nacional do Vale da Seda segue até domingo e deve atrair perto de 20 mil pessoas.
E o motivo para o novo ânimo dos sericicultores, segundo a Câmara Técnica do Complexo da Seda no Paraná, é a alta no preço médio do casulo e os investimentos em novas tecnologias, que facilitaram a produção do bicho-da-seda. Só neste ano, foram construídos 50 novos barracões em Nova Esperança.
“O momento é de recuperação do que perdemos e de investimentos no setor. Os sericultores paranaenses voltaram a se animar neste ano e estão apostando na atividade. Temos pessoas novas no ramo e produtores ampliando os negócios”, disse o técnico do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e gerente da Câmara Técnica do Complexo da Seda no Paraná, Oswaldo da Silva Pádua.
As amoreiras cultivadas para alimentar as lagartas cobrem 13 mil hectares do estado. Só neste ano, 130 novos hectares foram plantados em Nova Esperança. “Temos produtores que deixaram a cana-de-açúcar, o gado e diversas outras atividades e migraram para a sericicultura. Outros diversificaram a produção, ou seja, possuem gado e seda”, explica Pádua.
O pecuarista João Cesar Bruneli resolveu investir na sericicultura neste ano. De 14,5 hectares de terra, 2,5 hectares foram separados para o plantio de amoreira e a construção de um barracão. Segundo Bruneli, se o investimento der retorno, a área de amoreira será aumentada a partir das próximas safras. “O gado me dá uma renda anual, diferente da seda que é mensal. Vou experimentar e, se der lucro mesmo, aos poucos vou diminuindo a pecuária.”

Preços em alta
O preço médio pago pelo quilo do casulo neste mês, segundo informações do mercado, é de R$ 10,5, quase R$ 3 a mais do que a média da última safra. “Essa alta no preço foi uma reação muito boa da demanda, e nos ajuda a trazer novas famílias para o segmento”, disse Oswaldo da Silva Pádua.
A área cultivada com seda já chegou a 21 mil hectares no Paraná e havia caído a 11 mil hectares. O número de produtores, com essa decadência, passou de 6,5 mil para 4,5 mil e agora pode voltar a crescer. Perto de 2,3 mil barracões foram desativados.
A atividade, que gera cerca de 20 mil empregos diretos no estado, contribui anualmente com R$ 27 milhões na formação do Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná. O Brasil é o segundo maior exportador de fio de seda do mundo, ficando atrás apenas da China, que diminuiu sua produção neste ano.
Paraná atrai grifes e veste europeus e japoneses
A seda que sai do Paraná é comprada por grifes europeias e japonesas, principais clientes da seda brasileira. Segundo a Emater, um quilo de fio de seda industrializado é vendido no mercado internacional por US$ 70. “Nossa produção tem qualidade e os fios são muito bem aceitos no mercado exterior. Isso é uma conquista dos paranaenses”, disse o técnico do instituto, Oswaldo da Silva Pádua.
A única empresa brasileira que transforma o casulo em fios de seda para a exportação é paranaense. A Fiação de Seda Bratac S/A fica em Londrina, região Norte do estado. A indústria, que trabalha em parceria com os produtores rurais, está à procura de novos sericicultores, já que o mercado está aquecido e falta matéria-prima.
“Nós precisamos de mais casulos porque o que produzimos hoje não é mais suficiente. Temos um mercado lá fora superaquecido à procura de seda. Para se ter uma ideia, temos pedidos de fios que não conseguimos atender, justamente por faltar matéria-prima. Por isso, o preço do casulo subiu neste ano” disse o gerente da Fiação de Seda Bratac, em Nova Esperança, Francisco Bezerra.
Para o gerente de matéria-prima da Fiação de Seda Bratac, José Oda, o Brasil ganhou credibilidade no mercado exterior por causa da qualidade dos fios. “Temos uma cadeia produtiva muito qualitativa. Nossos técnicos agrícolas acompanham a produção no campo para que o casulo chegue aqui com qualidade. Na indústria, temos equipamentos modernos que fazem o fio ficar impecável. Por isso, os fios de seda brasileiro se tornaram os melhores do mundo. Com isso, ganhamos a Europa e o Japão.”

Atividade especializada
O Paraná se especializou na seda aperfeiçoando a cadeia, com campo à indústria.

Integração
As lagartas Bombyx Mori (bicho-da-seda) são fornecidas pela indústria. O inseto é criado em esteiras dentro de barracões e alimentado com as folhas da amoreira. As mudas da planta também são oferecidas pelo comprador final.

Adaptação
A área cultivada com amoreiras e o tamanho do galpão dependem da disponibilidade do produtor rural. As plantações permitem a colheita de folhas por até 18 anos. O corte é diário, para que o bicho-da-seda tenha alimentação fresca.

Ciclo mensal
Depois de 30 dias se alimentando só de folhas de amoreira, o bicho-da-seda começa a produzir o casulo com fio de seda, em seu processo de metamorfose. Esse casulo é que os sericicultores repassam à indústria.
Campeões da seda
Os quatro maiores produtores de seda ficam entre o Norte o Noroeste do estado. Boa vista da Aparecida fica no Oeste.

Produção de casulos (kg/2011)
1º Nova Esperança 631.883,80
2º Alto Paraná 229.718,72
3º Astorga 138.608,83
4º Cândido de Abreu 105.834,50
5º Boa Vista da Aparecida 98.820,46

Fonte: Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

Fotos Fábio Dias/Gazeta do Povo - Matéria: Fábio Guillen, da Gazeta Maringá

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