quarta-feira, 6 de julho de 2011

::: ABASTECIMENTO - 33,5% da água tratada não chega às residências


Mais de 30% da água captada, tratada e distribuída nos 344 municípios do estado abastecidos pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) é perdida antes mesmo de chegar às residências dos usuários. O índice representa tanto as perdas reais (causadas por vazamentos e manutenções das redes) quanto as perdas aparentes (resultantes de hidrômetros desregulados, que não contabilizam toda a água que passa por eles) e ligações clandestinas, entre outros fatores. Este tipo de desperdício no sistema de abastecimento público é comum em todo o país e representa, além de um enorme passivo ambiental, a redução das receitas das operadoras. Com menos dinheiro em caixa, elas reduzem os investimentos na melhoria das próprias redes e até na ampliação da coleta de esgoto.

De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, as perdas em faturamento das companhias de água – que é o quanto elas deixam de cobrar do total de usuários atendidos – chegam a ultrapassar a casa dos 80%. É o caso da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama). A Sanepar, por sua vez, é a operadora mais eficiente do Brasil neste quesito, com perdas de 21,2% (veja gráfico ao lado), aproximando-se da meta estabelecida para o país, de 20%. Os dados do SNIS são de 2008, com base em informações prestadas pelas próprias operadoras.
Disparidade
Na opinião do secretário de Saneamento Ambiental do Mi­­nistério das Cidades, Leodegar Tiscoski, tamanha disparidade está associada principalmente à gestão das empresas. “Muitas estão investindo em novas obras, mas não na redução de perdas, o que implicaria a substituição de redes, na melhora da eficiência das estações elevatórias e na substituição e instalação de hidrômetros: fatores necessários para a redução da perda física”, explica.
Segundo Kazushi Shimizu, gerente da Unidade de Serviço de Desenvolvimento Operacional da Sanepar, a companhia hoje tem um índice de perda de faturamento de 20,4%. Em relação às perdas totais (33,5%), cerca de 50% deste índice é representado pelas perdas reais (vazamentos na rede) e outros 50% são aparentes (ligações clandestinas). “Quando consertamos uma rede de distribuição, isso entra como perda. É preciso lavar, limpar a rede e efetivamente essa água não chega ao consumidor”, afirma, justificando que algum grau de desperdício é inevitável.
Cristovão Vicente Fernandes, engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que os sistemas de distribuição de água não são perfeitos, mas podem ser aprimorados. Para isso, o controle adequado das perdas exige investimentos e uma gestão mais eficiente – com bons planejamentos e monitoramento constante das redes. “A região metropolitana de Curitiba está crescendo e é preciso levar água às pessoas. É uma questão, portanto, de gerenciamento de demanda. Se [o crescimento] continuar nessas taxas, vamos ter problemas amanhã ou depois”, alerta, apontando um eventual desabastecimento de água no futuro. Afinal, na Grande Curitiba, a disponibilidade hídrica é de apenas 500 mil litros por ano por habitante, enquanto o ideal recomendado pela Or­­ganização das Nações Unidas (ONU) é de 1,7 milhão de litros por habitante/ano.

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Governo federal prevê R$ 2 bilhões para combater o desperdício
O Ministério das Cidades vai disponibilizar cerca de R$ 2 bilhões para combater as perdas de água nos sistemas de abastecimento público do país. A informação é do secretário de Saneamento Ambiental, Leodegar Tiscoski. Os recursos vão integrar o pacote de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. “Nas próximas semanas vamos ter o cronograma para estabelecer as datas de apresentação dos projetos candidatos a receber os recursos. Nossa meta é reduzir de 41% para 35% o desperdício [mé­dia brasileira de perdas] até 2015”, explica. Segundo ele, o governo também vai atuar junto às operadoras na capacitação de pessoal e assistência técnica. O índice de perdas considerado ideal pelo ministério é de 20%. “Abaixo disso, os investimentos ficariam muito pesados”, pondera Tiscoski.
Édison Carlos, presidente executivo da OCIP Instituto Trata Brasil, acredita que o índice a ser perseguido deveria ser de 10% a 15% de perdas – o mesmo praticado em outros países. Segundo ele, aplicar na manutenção e substituição contínua das redes, na substituição de hidrômetros e em campanhas de conscientização do cidadão para não “roubar” água do sistema são medidas essenciais. Nesse sentido, as operadoras também deveriam servir de exemplo. “Uma adutora [rede principal de abastecimento de água tratada] vazando é o pior exemplo que o cidadão pode ver. O que jorra em uma hora ali, eu não gasto em um ano”, compara.
Sanepar
De acordo com Celso Luis Tho­maz, diretor da seção paranaense da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental (Abes-PR), a eficiência da Sanepar ainda está longe dos índices de países onde a água é mais escassa. No entanto, ele afirma que dos 33,5% da água perdida pela companhia, metade apenas é devido a manutenções e vazamentos. “A outra parte não é desperdício, pois representa um volume de água que os clientes consomem, mas que não é contabilizado pelos hidrômetros. Isso ocorre porque todo hidrômetro apresenta erros de medição. Com o tempo, eles desgastam e acabam registrando menos água do que foi consumido. Além disso, existem os casos de fraude”, argumenta. (JRM)
Serviço:
Em casos de vazamentos na rua, comunique a Sanepar através do telefone 115.

João Rodrigo Maroni - GP

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