Mais de 30% da água captada, tratada e distribuída nos 344 municípios do estado abastecidos pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) é perdida antes mesmo de chegar às residências dos usuários. O índice representa tanto as perdas reais (causadas por vazamentos e manutenções das redes) quanto as perdas aparentes (resultantes de hidrômetros desregulados, que não contabilizam toda a água que passa por eles) e ligações clandestinas, entre outros fatores. Este tipo de desperdício no sistema de abastecimento público é comum em todo o país e representa, além de um enorme passivo ambiental, a redução das receitas das operadoras. Com menos dinheiro em caixa, elas reduzem os investimentos na melhoria das próprias redes e até na ampliação da coleta de esgoto.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, as perdas em faturamento das companhias de água – que é o quanto elas deixam de cobrar do total de usuários atendidos – chegam a ultrapassar a casa dos 80%. É o caso da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama). A Sanepar, por sua vez, é a operadora mais eficiente do Brasil neste quesito, com perdas de 21,2% (veja gráfico ao lado), aproximando-se da meta estabelecida para o país, de 20%. Os dados do SNIS são de 2008, com base em informações prestadas pelas próprias operadoras.
Disparidade
Na opinião do secretário de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, Leodegar Tiscoski, tamanha disparidade está associada principalmente à gestão das empresas. “Muitas estão investindo em novas obras, mas não na redução de perdas, o que implicaria a substituição de redes, na melhora da eficiência das estações elevatórias e na substituição e instalação de hidrômetros: fatores necessários para a redução da perda física”, explica.
Segundo Kazushi Shimizu, gerente da Unidade de Serviço de Desenvolvimento Operacional da Sanepar, a companhia hoje tem um índice de perda de faturamento de 20,4%. Em relação às perdas totais (33,5%), cerca de 50% deste índice é representado pelas perdas reais (vazamentos na rede) e outros 50% são aparentes (ligações clandestinas). “Quando consertamos uma rede de distribuição, isso entra como perda. É preciso lavar, limpar a rede e efetivamente essa água não chega ao consumidor”, afirma, justificando que algum grau de desperdício é inevitável.
Cristovão Vicente Fernandes, engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que os sistemas de distribuição de água não são perfeitos, mas podem ser aprimorados. Para isso, o controle adequado das perdas exige investimentos e uma gestão mais eficiente – com bons planejamentos e monitoramento constante das redes. “A região metropolitana de Curitiba está crescendo e é preciso levar água às pessoas. É uma questão, portanto, de gerenciamento de demanda. Se [o crescimento] continuar nessas taxas, vamos ter problemas amanhã ou depois”, alerta, apontando um eventual desabastecimento de água no futuro. Afinal, na Grande Curitiba, a disponibilidade hídrica é de apenas 500 mil litros por ano por habitante, enquanto o ideal recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) é de 1,7 milhão de litros por habitante/ano.
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Governo federal prevê R$ 2 bilhões para combater o desperdício
O Ministério das Cidades vai disponibilizar cerca de R$ 2 bilhões para combater as perdas de água nos sistemas de abastecimento público do país. A informação é do secretário de Saneamento Ambiental, Leodegar Tiscoski. Os recursos vão integrar o pacote de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. “Nas próximas semanas vamos ter o cronograma para estabelecer as datas de apresentação dos projetos candidatos a receber os recursos. Nossa meta é reduzir de 41% para 35% o desperdício [média brasileira de perdas] até 2015”, explica. Segundo ele, o governo também vai atuar junto às operadoras na capacitação de pessoal e assistência técnica. O índice de perdas considerado ideal pelo ministério é de 20%. “Abaixo disso, os investimentos ficariam muito pesados”, pondera Tiscoski.
Édison Carlos, presidente executivo da OCIP Instituto Trata Brasil, acredita que o índice a ser perseguido deveria ser de 10% a 15% de perdas – o mesmo praticado em outros países. Segundo ele, aplicar na manutenção e substituição contínua das redes, na substituição de hidrômetros e em campanhas de conscientização do cidadão para não “roubar” água do sistema são medidas essenciais. Nesse sentido, as operadoras também deveriam servir de exemplo. “Uma adutora [rede principal de abastecimento de água tratada] vazando é o pior exemplo que o cidadão pode ver. O que jorra em uma hora ali, eu não gasto em um ano”, compara.
Sanepar
De acordo com Celso Luis Thomaz, diretor da seção paranaense da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental (Abes-PR), a eficiência da Sanepar ainda está longe dos índices de países onde a água é mais escassa. No entanto, ele afirma que dos 33,5% da água perdida pela companhia, metade apenas é devido a manutenções e vazamentos. “A outra parte não é desperdício, pois representa um volume de água que os clientes consomem, mas que não é contabilizado pelos hidrômetros. Isso ocorre porque todo hidrômetro apresenta erros de medição. Com o tempo, eles desgastam e acabam registrando menos água do que foi consumido. Além disso, existem os casos de fraude”, argumenta. (JRM)
Serviço:
Em casos de vazamentos na rua, comunique a Sanepar através do telefone 115.
João Rodrigo Maroni - GP
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