quinta-feira, 14 de julho de 2011

::: SAFRA 2011/ 2012 - Clima instável interrompe ciclo de expansão da cana

Dircel Portugal/Gazeta do Povo
Com clima desfavorável e baixo investimento, setor sucroalcooleiro registra em 2011 a primeira recuo na produção desde 2008

O clima adverso que causou prejuízos de R$ 1,2 bilhão aos produtores de grãos do Paraná também comprometeu o desempenho do setor sucroalcooleiro, que deverá registrar neste ano a primeira queda na produção desde 2008. Em relatório divulgado ontem, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) sinaliza uma quebra de 35 milhões de toneladas na safra de cana-de-açúcar 2011/12 do Centro-Sul do país. De acordo com a entidade, as indústrias da região devem moer nesta temporada 533,50 milhões de toneladas, 6,16% menos que o previsto no início do ciclo (568,5 milhões). O resultado, se confirmado, representará uma queda de 4,21% sobre o volume processado na safra anterior (556,94 milhões).
O aperto na oferta de matéria-prima vai reduzir a produção brasileira de açúcar e etanol e tende a prolongar o ciclo de alta dos preços dos dois subprodutos da cana. Nas contas da Unica, o maior tombo deve ser registrado pelo etanol, cuja produção deve recuar a 22,54 bilhões de litros, 2,84 bilhões (11,19%) menos que em 2010 e 11,61% abaixo da projeção inicial. No caso do açúcar, serão 32,38 milhões de toneladas neste ano, 1,12 milhões de toneladas (3,35%) a menos que na safra anterior e 6,35% abaixo do inicialmente previsto para 2011.
“A oferta vai continuar apertada e não vejo solução no curto prazo. As importações podem aliviar um pouco a situação do etanol, como já vem ocorrendo. Mas, de qualquer maneira, é apenas um paliativo e não uma solução definitiva”, considera Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting. A consultoria espera aperto ainda maior na disponibilidade de matéria-prima, com moagem de apenas 520 milhões de toneladas de cana na atual temporada.
Além de complicações climáticas como estiagem no final do ciclo, chuva na colheita e geadas, o baixo nível de investimento prejudica o desempenho do setor sucroalcooleiro. Para manter as plantações saudáveis e produtivas, o ideal seria que 20% da área fossem replantados a cada ano, explica o superintendente da Associação de Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), José Adriano Dias. Nos últimos três anos, contudo, a escassez de recursos tem dificultado ou, em alguns casos, até impedido a renovação dos canaviais. “Agora esses canaviais envelhecidos estão puxando para baixo a produtividade das lavouras”, esclarece o dirigente.
Segundo ele, para voltar aos níveis de produtividade de três anos atrás cerca de 40% das plantações de cana do Paraná – o equivalente a cerca de 300 mil hectares – precisariam ser replantadas nos próximos anos. Considerando que a renovação de cada hectare de cana-de-açúcar custa perto de R$ 8 mil, o setor precisaria de R$ 2,4 bilhões em investimentos somente no Paraná. “Isso apenas para re­­tomar a produção que já tivemos em anos anteriores, sem expandir o plantio. E, mesmo que o setor ti­­vesse recursos para replantar todas as lavouras envelhecidas, a produção de matéria-prima só seria regularizada em 2014”, frisa Dias.
Em todo o Centro-Sul do Brasil, região que é responsável por cerca de 85% da produção nacional, um em cada seis hectares ( uma área equivalente a 90 milhões de toneladas de cana-de-açúcar) precisam ser renovados, conforme a Archer Consulting.
Etanol
Equilíbrio depende de investimento
“A conta do etanol simplesmente não fecha. É impossível alimentar um mercado que tem crescido a taxas de 8% com uma produção que, nas últimas três safras, aumentou apenas 2,5% ao ano”, diz o analista Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting, referindo-se à demanda crescente pelo combustível no mercado interno.
“Não conseguimos crescer tão rápido quanto a indústria automobilística, que só no primeiro semestre deste ano colocou no mercado 2,8 milhões de novos veículos flex”, completa José Adriano Dias, superintendente da associação que representa os setor sucroalcooleiro no Paraná, a Alcopar.
Estimativa da Archer mostra que, para suprir completamente a demanda atual por etanol, a produção brasileira teria que crescer ao menos 100 milhões de toneladas. E o quadro de abastecimento deve se estreitar ainda mais nos próximos anos, alerta Corrêa. “Daqui seis anos, na safra 2017/18, precisaremos de 1 bilhão de toneladas de cana para atender a todo o nosso consumo. ”, calcula.
Ele pontua que, para isso, seria necessário também ampliar – e muito – o parque industrial. “Para ficar em uma situação confortável, precisaríamos de 15 a 20 novas unidades a cada ano.

Luana Gomes, com agências - GP

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