Enquanto o número de contas-correntes praticamente duplicou nos últimos oito anos, impulsionado pela ascensão da classe C, a oferta de produtos e serviços no setor bancário se concentrou em poucas instituições.
Juntos, os cinco grandes bancos que operam no varejo hoje são maiores do que eram as 50 principais instituições em funcionamento no final de 2002.
Eles têm 70% a mais em dinheiro e em bens para administrar e somam 17 mil agências, total que os 50 maiores bancos tinham há oito anos.
Apesar da concentração, o que diminui a concorrência, o maior problema dessa expansão bancária, na avaliação de especialistas, é a falta de conhecimento dos bancos sobre os costumes da nova clientela que ainda prefere tomar empréstimo em loja.
Segundo pesquisa do instituto Data Popular, 58% da classe C tomaria crédito pessoal prioritariamente em lojas populares, mesmo que a taxa de juros fosse 5% maior.
Para Renato Meirelles, sócio do instituto, a pesquisa feita com 5.000 consumidores em todo o país mostra que "o sistema financeiro não está preparado para atender essas pessoas".
Na avaliação do pesquisador, esse desconhecimento explica a busca dos grandes bancos por parcerias com as redes de varejo. "Os bancos estão, na verdade, comprando o relacionamento das lojas com esse público".
DESCONFIANÇA - Estagiária de administração, Rayane Cristina da Silva abriu sua primeira conta em 2010 e usa o cartão do banco só para débito. Quando quer comprar, prefere o financiamento de lojas populares.
"O banco me liga oferecendo serviços e nem entendo. Dizem que querem aumentar o limite, mas não sei", conta, desconfiada.
Segundo o Data Popular, a classe C já representa cerca de 55% dos clientes bancários e mais de 40% deles dizem ter dificuldade para entender as finanças bancárias.
"Essa classe tem mais dificuldade porque foi incluída há pouco tempo [no sistema bancário]", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora do ProTeste, entidade de defesa do consumidor.
Mesmo sem entender os bancos, clientes como Rayane ajudam a engordar o lucro dessas instituições ao usar uma conta-corrente e pagar tarifas.
Somente no ano passado, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander lucraram R$ 43 bilhões, quase o dobro do valor estimado pelo governo para as obras da Copa do Mundo de 2014.
Em oito anos, foram cerca de 64 milhões de novas contas-correntes, de acordo com a Febraban (entidade que representa os bancos).
Ao mesmo tempo, as fusões acentuaram a concentração da oferta de serviços.
Das dez instituições que estavam no topo do ranking em dezembro de 2002, três foram compradas pelos concorrentes maiores. O BB adquiriu a Nossa Caixa, o Itaú comprou o Unibanco, e o Santander levou o ABN Amro.
Clientela precisa de educação financeira, dizem especialistas
Juntos, os cinco grandes bancos que operam no varejo hoje são maiores do que eram as 50 principais instituições em funcionamento no final de 2002.
Eles têm 70% a mais em dinheiro e em bens para administrar e somam 17 mil agências, total que os 50 maiores bancos tinham há oito anos.
Apesar da concentração, o que diminui a concorrência, o maior problema dessa expansão bancária, na avaliação de especialistas, é a falta de conhecimento dos bancos sobre os costumes da nova clientela que ainda prefere tomar empréstimo em loja.
Segundo pesquisa do instituto Data Popular, 58% da classe C tomaria crédito pessoal prioritariamente em lojas populares, mesmo que a taxa de juros fosse 5% maior.
Para Renato Meirelles, sócio do instituto, a pesquisa feita com 5.000 consumidores em todo o país mostra que "o sistema financeiro não está preparado para atender essas pessoas".
Na avaliação do pesquisador, esse desconhecimento explica a busca dos grandes bancos por parcerias com as redes de varejo. "Os bancos estão, na verdade, comprando o relacionamento das lojas com esse público".
DESCONFIANÇA - Estagiária de administração, Rayane Cristina da Silva abriu sua primeira conta em 2010 e usa o cartão do banco só para débito. Quando quer comprar, prefere o financiamento de lojas populares.
"O banco me liga oferecendo serviços e nem entendo. Dizem que querem aumentar o limite, mas não sei", conta, desconfiada.
Segundo o Data Popular, a classe C já representa cerca de 55% dos clientes bancários e mais de 40% deles dizem ter dificuldade para entender as finanças bancárias.
"Essa classe tem mais dificuldade porque foi incluída há pouco tempo [no sistema bancário]", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora do ProTeste, entidade de defesa do consumidor.
Mesmo sem entender os bancos, clientes como Rayane ajudam a engordar o lucro dessas instituições ao usar uma conta-corrente e pagar tarifas.
Somente no ano passado, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander lucraram R$ 43 bilhões, quase o dobro do valor estimado pelo governo para as obras da Copa do Mundo de 2014.
Em oito anos, foram cerca de 64 milhões de novas contas-correntes, de acordo com a Febraban (entidade que representa os bancos).
Ao mesmo tempo, as fusões acentuaram a concentração da oferta de serviços.
Das dez instituições que estavam no topo do ranking em dezembro de 2002, três foram compradas pelos concorrentes maiores. O BB adquiriu a Nossa Caixa, o Itaú comprou o Unibanco, e o Santander levou o ABN Amro.
Clientela precisa de educação financeira, dizem especialistas
Além de preferir tomar empréstimos nas lojas de varejo, a nova classe média tem ainda o hábito de comprar fiado, emprestar o cartão de crédito para parentes e amigos irem às compras e quer ter logo em mãos o bem desejado em vez de poupar para tê-lo apenas no futuro.
É o que mostra pesquisa do instituto Data Popular.
Na avaliação de especialistas, essa clientela precisa de educação financeira.
A complexidade do mercado, aliada à falta de conhecimento dos novos clientes, favorece a concentração e enfraquece iniciativas para estimular a concorrência.
O sistema financeiro está em segundo lugar no ranking de reclamações da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, feito a partir das queixas registradas nos Procons.
Em 2008, por pressão do Ministério Público e das entidades de defesa do consumidor, o governo decidiu padronizar as tarifas de serviços básicos para facilitar a compreensão dos clientes. A medida, no entanto, teve pouco efeito na prática.
"Antes era impossível [entender as tarifas], cada banco usava um nome. Com a padronização, o Banco Central atuou de forma a coibir abusos", afirma a procuradora Valquíria Quixadá, coordenadora do grupo de defesa do consumidor bancário no Ministério Público Federal.
No entanto, ela reconhece a falta de campanhas de educação financeira para melhorar a transparência na comunicação com o cliente.
"Houve uma evolução, mas ainda não é algo absolutamente transparente e fácil de ser entendido", afirma João Carlos Oliveira, professor de economia da Universidade de Brasília.
"Tem de mostrar para o consumidor exatamente quais são os benefícios que ele pode ou não ter. Isso evitaria inclusive um endividamento em excesso", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora do ProTeste.
Dono de um quiosque na rodoviária de Brasília, Francisco de Assis Albuquerque, 60, mantém conta num mesmo banco há 25 anos.
Ele só abriu uma nova porque havia outra instituição mais próxima do seu antigo trabalho. A conta, porém, já foi encerrada. "É tanta coisa que cobram que só trabalhando lá dentro para saber".
A desconfiança com os bancos não vale para os amigos. Ele tem o hábito de emprestar o cartão de crédito para os mais próximos. "Todo mundo pode ajudar os outros se tiver condições".
É o que mostra pesquisa do instituto Data Popular.
Na avaliação de especialistas, essa clientela precisa de educação financeira.
A complexidade do mercado, aliada à falta de conhecimento dos novos clientes, favorece a concentração e enfraquece iniciativas para estimular a concorrência.
O sistema financeiro está em segundo lugar no ranking de reclamações da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, feito a partir das queixas registradas nos Procons.
Em 2008, por pressão do Ministério Público e das entidades de defesa do consumidor, o governo decidiu padronizar as tarifas de serviços básicos para facilitar a compreensão dos clientes. A medida, no entanto, teve pouco efeito na prática.
"Antes era impossível [entender as tarifas], cada banco usava um nome. Com a padronização, o Banco Central atuou de forma a coibir abusos", afirma a procuradora Valquíria Quixadá, coordenadora do grupo de defesa do consumidor bancário no Ministério Público Federal.
No entanto, ela reconhece a falta de campanhas de educação financeira para melhorar a transparência na comunicação com o cliente.
"Houve uma evolução, mas ainda não é algo absolutamente transparente e fácil de ser entendido", afirma João Carlos Oliveira, professor de economia da Universidade de Brasília.
"Tem de mostrar para o consumidor exatamente quais são os benefícios que ele pode ou não ter. Isso evitaria inclusive um endividamento em excesso", afirma Maria Inês Dolci, coordenadora do ProTeste.
Dono de um quiosque na rodoviária de Brasília, Francisco de Assis Albuquerque, 60, mantém conta num mesmo banco há 25 anos.
Ele só abriu uma nova porque havia outra instituição mais próxima do seu antigo trabalho. A conta, porém, já foi encerrada. "É tanta coisa que cobram que só trabalhando lá dentro para saber".
A desconfiança com os bancos não vale para os amigos. Ele tem o hábito de emprestar o cartão de crédito para os mais próximos. "Todo mundo pode ajudar os outros se tiver condições".
DN
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