O saldo da balança comercial paranaense nos cinco primeiros meses de 2011, que ficou negativo em US$ 453 milhões, é o pior para esse período em pelo menos 22 anos, quando teve início a série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Desde então, o estado havia acumulado déficit comercial no intervalo entre janeiro e maio apenas uma vez – em 2001, quando o saldo ficou negativo em US$ 189 milhões.
É fato que, de 2008 para cá, as importações superaram as exportações em vários meses. Mas a primeira metade do ano, quando é escoada grande parte da safra agrícola, costumava ser de gordos superávits. Nos cinco primeiros meses de 2010, por exemplo, as vendas ao exterior haviam desbancado as compras em US$ 535 milhões. Em anos anteriores, o superávit no período ficava quase sempre acima de US$ 1 bilhão, chegando a beirar US$ 2 bilhões em meados da década passada.
O desempenho deste ano reforça as evidências de que, mesmo batendo recordes, os embarques paranaenses de produtos básicos e semimanufaturados – como soja em grão, carnes e açúcar – têm dificuldade cada vez maior em suplantar as importações de petróleo, adubo e, principalmente, produtos industrializados. Ao todo, o estado exportou quase US$ 6,5 bilhões de janeiro a maio, um faturamento inédito, 24% maior que o dos cinco primeiros meses de 2010. A expansão das importações, porém, foi bem mais forte: elas cresceram 48%, atingindo pouco mais de US$ 6,9 bilhões.
Entre os manufaturados que o Paraná traz de outros países destacam-se veículos e suas peças, em especial fabricados na Argentina, México e Alemanha; e uma miríade de produtos chineses, entre eles aparelhos de ar condicionado, telas de computador, circuitos integrados, ferramentas elétricas, lâmpadas, pneus e eletrodomésticos de todo tipo. Grande compradora de soja e frango, a China é hoje o principal parceiro comercial do Paraná, respondendo por 16% das transações do estado com outros países – há dez anos, a participação chinesa não chegava a 2%.
Volta ao passado
A predominância de produtos primários na pauta de exportação e de industrializados na ponta importadora não é exclusividade do Paraná. Trata-se de uma tendência que fica mais nítida a cada ano em todo o Brasil. Por sinal, o país só não registra déficits comerciais com tanta frequência porque, além de soja, também exporta muito minério de ferro e petróleo, insumos que não são produzidos no Paraná.
O perfil do comércio exterior incomoda a maior parte da indústria. Para o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Paraná e Brasil estão “voltando aos tempos de colônia”. “Muito do que é importado poderia estar sendo fabricado aqui. Temos um alívio nas exportações porque as commodities agrícolas estão com bons preços, e assim devem continuar. Mas poderíamos agregar muito mais valor a essa matéria-prima antes de exportá-la”, avalia Zürcher. Para ele, o governo federal deveria taxar a exportação de commodities, de forma a estimular sua industrialização.
Rodolfo Coelho Prates, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo, avalia que a tendência de crescimento dos embarques de produtos primários não é reversível no curto prazo. “Estamos comprando de onde é mais barato. Com nosso câmbio valorizado e o da China permanentemente desvalorizado, nosso poder de compra lá fora está muito grande. Isso faz muitas empresas substituírem nacionais por importados, o que cedo ou tarde prejudicará o nível de emprego no país”, alerta.
Política industrial
Para Prates, taxar as vendas de produtos básicos seria perigoso, por limitar uma grande fonte de recursos externos. “Em vez disso, o governo pode abandonar a flutuação do câmbio e passar a fixar uma taxa mais adequada à indústria. Mas o fundamental é adotar uma verdadeira política industrial, algo que não temos há três décadas. Até hoje, política industrial no Brasil não passa de retórica”, critica.
Fernando Jasper - GP
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