segunda-feira, 6 de junho de 2011

::: TRABALHO - Greves deixam PR menos atrativo

Grande número de paralisações e aumento do custo da mão de obra podem afastar investimentos do estado e levar novas montadoras para outras regiões do país



A greve dos trabalhadores da Volkswagen em São José dos Pinhais (SJP), que entra hoje no 33.º dia - a maior da história da montadora no mundo -, ameaça futuros investimentos no mercado automotivo do Paraná. O enfrentamento entre a fabricante alemã e o Sindicato dos Meta­lúrgicos da Grande Curitiba (SMC), que busca igualar o benefício obtido pelos colaboradores da Renault e Volvo em negociações bem sucedidas (leia no quadro ao lado), representa um risco para o desembarque de outras empresas do setor em solo paranaense, avaliam o governo estadual, especialistas do mercado e o próprio presidente do sindicato. Nos últimos três anos, os trabalhadores da planta de SJP cruzaram os braços durante 39 dias – sem contar a atual paralisação. No mesmo período, as três fábricas da Volks no estado de São Paulo – São Bernardo, São Carlos e Taubaté – nunca deixaram de funcionar.
O maior exemplo de que o estado paranaense pode deixar de ser “observado” pelas marcas estrangeiras com planos de desembarcar no Brasil é a região do ABC paulista, tradicional polo do setor de automóveis. Na década de 90, as frequentes paralisações organizadas pelas forças sindicais fizeram diversas montadoras procurar regiões mais atraentes para instalar suas unidades. O próprio Paraná acabou beneficiado pela decisão da desconcentração, sendo escolhido para receber as fábricas da Renault e Volkswagen, ambas em 1998, e da Volvo, no ano seguinte.
Para o ex-gerente de relações trabalhistas da Renault Marino Rodilha, os sindicatos do ABC buscaram o máximo de remuneração possível, mas não avaliaram as consequências futuras. O resultado veio anos mais tarde, com a perda de espaço para regiões como Camaçari, na Bahia, Gravataí, no Rio Grande do Sul, e o próprio Paraná. “O fluxo de indústrias do ABC é menor que há 20 anos. Nos espaços que poderiam ser ocupados por grandes empresas foram construídos grandes shoppings”, diz.
Três novas montadoras – Hunday, Mitsubishi e Suzuki – que estão chegando ao Brasil escolheram instalar suas fábricas em Goiás, sinalizando que fatores como mão de obra barata e facilidade de negociação com sindicatos locais pesaram na decisão.
Preocupação
A possibilidade de as longas e frequentes greves fecharem as portas do Paraná para outras montadoras preocupa o governo estadual. De acordo com o secretário de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Ricardo Barros, que negocia a instalação de seis montadoras no estado, é preciso cuidado para não tornar hostil o ambiente sindical. “É fundamental assegurar as conquistas do colaborador, desde que isso não tire a competitividade do Paraná”, diz. “Esse filme já foi visto. Não pode ocorrer aqui o mesmo que no ABC.”
O presidente do SMC, Sérgio Butka, concorda que as greves atrapalham novos investimentos. E defende que os trabalhadores do setor participem ativamente das negociações para vinda de empresas, desde o primeiro momento. “Se o governo está discutindo com alguma empresa sem ouvir o trabalhador, já começou errado. A negociação tem de envolver as três partes – empresa, governo e sindicato. Emprego é sempre bem vindo, desde que seja com qualidade e condições adequadas”, ressalta Butka.
Investimentos
Além do risco de o Paraná ficar fora dos planos de futuras montadoras, há também a possibilidade de as empresas presentes na região diminuírem a aplicação de capital em suas plantas. A própria Volks avalia, diante do atual cenário, a possibilidade de novos investimentos na fábrica de São José dos Pinhais, já que a planta atual tem condições de produzir mais, segundo o diretor de relações trabalhistas, Nilton Junior. Hoje, a unidade produz 840 unidades/dia dos modelos Golf, CrossFox e Fox. “Temos interesse em fazer uso dos recursos. Mas, a unidade do Paraná tem um cenário de risco e instabilidade, o que acaba se tornando um ambiente hostil para investimentos”, ressalta.
“O que está ocorrendo aqui pode inviabilizar a empresa de fazer uma aplicação de investimento na fábrica. Entre os últimos anúncios feitos pela Volks, nada será na unidade de São José”, complementa Rodilha, ex-gerente de relações trabalhistas da Renault.
Ele também ressalta que o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba deveria “aprender” com o exemplo do ABC para não cometer os mesmo erros. “Hoje, os sindicatos paulistas têm mais maturidades de preservar e, ao invés de serem opositores, passaram a ser aliados. Dentro dos interesses do trabalhador, claro. O sindicato daqui está olhando só o momento e não quer aprender com a lição do passado.”

Carlos Guimarães Filho

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