PR é um dos cinco estados com mais municípios do que delegados. Falta de pessoal prejudica combate ao crime
Cerca de dois terços dos municípios paranaenses – o equivalente a 270 cidades – não têm um delegado de polícia. A informação é do Sindicato das Classes Policiais Civis (Sinclapol) e do delegado-geral da Polícia Civil do estado, Marcus Vinícius Michelotto. Com média 0,9, o Paraná tem uma das piores relações delegado – municípios do país. São 361 profissionais para 399 cidades. Fica atrás, por exemplo, de estados como Rio de Janeiro (5,7), São Paulo (5,1), Acre (3,0) e Bahia (2,2), segundo o último levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego, de dezembro de 2010. Apenas quatro unidades da federação têm menos delegados do que cidades: Rio Grande do Sul, Goiás, Piauí e Rio Grande do Norte.
A defasagem no número de profissionais reflete diretamente no combate à criminalidade no Paraná. Sobrecarregados, os delegados cuidam de até quatro cidades ao mesmo tempo e não conseguem dar conta de todos os inquéritos, o que resulta em investigações superficiais e crimes sem solução.O atendimento é improvisado, feito a distância e até por telefone.
“Essa deficiência é, certamente, uma das explicações para a violência encostada no Paraná há alguns anos. Isso representa um grande obstáculo e é o foco crônico da impunidade”, afirma o sociólogo e ex-secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Luís Flávio Sapori. “Precisamos pelo menos dobrar o número [de delegados] no Paraná. A situação é caótica”, resume Michelotto.
Para o delegado-geral, só há uma saída para amenizar essa situação: abrir novas vagas. “Há uma proposta de criação do delegado de quinta classe, que ganharia 5% menos e assumiria essas cidades que não são sede de comarcas. Isso possibilitaria novas contratações”, explica. A ideia está em análise por uma comissão formada por policiais que estudam o projeto de modernização da Polícia Civil, parado no governo do estado desde a gestão Orlando Pessuti.
Segundo o Sinclapol, na última década o número de delegados no Paraná caiu 2,4%. Desde 2007, não há concursos para este cargo no estado.
Análise
De acordo com Sapori, a falta de delegados é uma das explicações para o grande número de inquéritos sem conclusão no estado. Recentemente, o Conselho Nacional do Ministério Público divulgou que o Paraná tem 7 mil casos de homicídios ainda não solucionados. “A Polícia Civil não tem sido valorizada no Brasil como um todo. É preciso enfrentar esse problema de frente. Nesse caso é até menos questão salarial e mais recursos humanos, melhorias de gestão, mais qualificação. Esses avanços precisam ser suscitados pelos estados”, afirma.
O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Paraná (Sindepol), Vinícius Carvalho, concorda que a falta de pessoal prejudica a qualidade das investigações. “Tem sido extremamente prejudicial a investigação policial e ao atendimento à população”, diz. Além disso, lembra que a sobrecarga de trabalho tem aumentado ainda mais o estresse dos delegados. “Tem delegado que cuida de três, quatro cidades. É muito ruim para ele e para o trabalho. O Ministério Público Estadual, por exemplo, tem promotores em todas as cidades”, compara. Carvalho lembra que a capital do estado passa todas as madrugadas com apenas dois delegados de plantão, um em cada Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciacs), nos bairros Portão e Centro. Eles atendem a todas as ocorrências, com exceção dos homicídios.
Felippe Aníbal e Diego Ribeiro - GP
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