terça-feira, 29 de março de 2011

::: METODOLOGIA - Escolas estaduais deixam ensino médio em blocos

Depois de dois anos de tentativa, algumas instituições, como o Colégio Estadual do Paraná, voltaram ao sistema tradicional


Dois anos após a adesão ao ensino médio em blocos – que concentra metade das disciplinas no primeiro semestre e o restante no segundo – seis escolas da rede estadual estão retornando ao ensino tradicional. O método, implantado pelo governo do estado em 2009 e seguido por 434 das 1.225 instituições da rede, é questionado por educadores. A Secretaria Estadual de Educação, inclusive, não descarta a possibilidade de revê-lo e abrirá, a partir desta semana, uma enquete em seu portal para medir o nível da comunidade.

Entre as seis instituições que retornaram ao método tradicional está o Colégio Estadual do Paraná (CEP), o maior do estado, que desde o início do ano voltou ao ensino re­­­­gular, em que os alunos têm au­­las de todas as disciplinas durante todo o ano. O principal motivo, segundo a direção, foi insatisfação dos alunos, que alegam que o novo sistema prejudica a preparação para o vestibular. “Esse método não tem um resultado satisfatório para o perfil e a realidade dos nossos estudantes. Mais da metade deles entra aqui pensando em continuar seus estudos e fazer graduação”, explica a diretora, Tânia Ma­­ria Acco. Para Gustavo Henrique Lu­­nar­­don, aluno do terceiro ano, é justamente esse o problema. “Em blocos a gente esquece muita coisa, o que atrapalha para fazer as pro­­­vas para entrar na universidade. Eu vou tentar uma vaga em engenharia no fim do ano e estou feliz que voltou ao normal.”
Para alguns educadores, o problema não é o método em si, mas a forma com que foi adotado, sem levar em conta a mentalidade que ainda reina na educação brasileira. “Não existe reflexão e qualidade no ensino, por isso o que o aluno aprende no primeiro semestre esquece no segundo. Essa deveria ter sido a principal preocupação quando os blocos foram adotados, mas não houve um acompanhamento da Secretaria”, diz a doutora em Educação e professora da Univer­­sidade Federal do Paraná (UFPR) Araci Asinelli da Luz. “Outro problema é que o conteúdo fica fragmentado e isso quebra a ideia de construção do conhecimento que se faz aos poucos, pois o aluno acaba se dispersando”, reflete Marlei Malinoski, que dá aulas de Português no Colégio Estadual Professor Brasílio Vicente de Castro e coordena a integração das licenciaturas na Univer­­sidade Tuiuti do Paraná (UTP). Na sua visão, a falta de maturidade dos alunos é mais um fator negativo. O aluno não tem autonomia para, quando necessário, lidar sozinho com os assuntos das matérias que não tem.
Mais questões
Não apenas a maturidade e mentalidade dos estudantes, porém, que têm inquietado os docentes que são contra o método. Para os que não o aprovam, outro problema é a concentração de conteúdos, que tornaria as aulas mais cansativas. “Eu indico por ano dez livros de literatura aos alunos. No bloco eles tinham de ler em um semestre, mas não deram conta. Eu chegava em sala e perguntava quantos tinham lido, mas em uma turma de 35 alunos no máximo cinco conseguiam, o que dificulta bastante o entendimento deles e o andamento da aula”, conta Tânia.
Além disso, a reposição no caso de faltas por parte dos professores também é comprometida, conforme aponta o professor de Filosofia Leonardo Pellegrino, que dá aula em três colégios públicos, entre eles o Instituto de Educação do Paraná. “Quando um professor precisa ser substituído esse processo é demorado. Se as aulas são concentradas, como ocorre nos blocos, o aluno corre o risco de ser mais prejudicado.”
O outro lado
Procurada para rebater as afirmações de que não estaria acompanhando a experiência das escolas em relação ao novo método, a Seed informou que abrirá, nesta semana, uma ferramenta para consulta pública em seu portal, para medir a satisfação da comunidade. Quan­to à alegação de que o sistema prejudicaria a preparação para o vestibular, a superintendente de educação, Merogi Cavet, disse que o en­­sino médio trabalha os conteúdos de forma cumulativa durante a sua duração e que esta dificuldade é um dos pontos a serm avaliados na consulta pública. Além disso, informou que a partir deste ano as escolas estão liberadas para decidirem qual método vão adotar.
Método deveria diminuir evasão e retenção
Se por um lado professores e estudantes apontam falhas no sistema de ensino médio em blocos, outros indicam as vantagens do sistema. “O tempo é reorganizado de outra forma e o aluno precisa se preocupar em dar conta de apenas seis disciplinas e não 12. Ao meu ver, isso faz com ele que tenha mais chance de ir melhor e menos de reprovar”, diz a professora de Pedagogia da Univer­­sidade federal do Paraná Maria Madselva Ferreira Feiges. Para ela, a sensação de que se está cumprindo as etapas mais rápido também seria positiva no sentido de manter os estudantes estimulados e interessados.
No Colégio Estadual Leôncio Correia, o método estaria diminuindo a reprovação. “São poucos os que não gostam, inclusive professores, embora para eles seja mais trabalhoso”, afirma o diretor, Wanderlei Carlos Gardioli. Ele garante, ainda, que a evasão também diminuiu. Em 2009, ano em que o ensino médio em blocos foi implantado, houve redução de 33% nas turmas da manhã.
A diminuição das taxas de reprovação – e, consequentemente, das de evasão, já que a retenção contínua seria um dos fatores que mais contribuem para o abandono por parte dos estudantes – foi, inclusive, um dos argumentos da Seed para a adoção do método nas escolas estaduais que ofertam o ensino médio. No entanto, não é possível saber se houve algum impacto, positivo ou negativo, já que a secretaria não informou os números. Para Tânia Maria Acco, diretora do Colégio Estadual do Paraná, a percepção é de que não houve mudança significativa nos dois fatores.

Anna Simas - GP

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