Mesmo distantes a mais de 600 quilômetros das regiões mais atingidas pelo terremoto do dia 11, muitos dos brasileiros que trabalham no Japão começam a sentir financeiramente as consequências das catástrofes no país. A suspensão das linhas de produção de fábricas como Toyota e Suzuki fez com que boa parte dos 110 mil brasileiros que moram nas regiões de Aichi e Shizuoka ganhasse férias inesperadas.
Como no Japão o salário é pago por hora, o prejuízo já é esperado pelos trabalhadores que estão por lá. É o caso de Alexandre Higashi, que mora na cidade de Toyota (Aichi) e trabalha em uma fábrica de carpetes para carros. Na hora do abalo, ele estava trabalhando e sentiu apenas um leve impacto. A produção da fábrica continuou normalmente naquele dia. “Nem imaginei que tinha sido tão forte”, diz Alexandre.
O brasileiro tinha todo o fim de semana planejado. No sábado, ele iria tirar folga para ir ao show da banda inglesa Iron Maiden, na cidade de Saitama. Domingo seria o dia de descanso e na segunda-feira ele voltaria à fábrica. Porém o show foi cancelado e as duas semanas seguintes de trabalho também. Os motivos alegados foram a falta de combustível para as máquinas do local e a suspensão da produção na Toyota.
Alexandre já calcula os prejuízos do tempo que está fora da fábrica. Como trabalhava seis dias por semana, fazia três horas extras diárias e ganhava 1,1 mil ienes (cerca de US$ 13) por hora, a folga vai resultar em uma perda de US$ 1,6 mil no final do mês. “Espero que deem um jeito. Talvez vão trocar as férias de maio por agora ou então recuperar esses dias em alguns domingos”, espera Alexandre.
Outro brasileiro que está no prejuízo por causa da parada na Toyota é Fernando Guedes, que está há 20 anos no Japão. Ele trabalha em uma fábrica de cintos de segurança na cidade que leva o mesmo nome da montadora. Guedes conta que nem percebeu quando ocorreu o terremoto: “Como eu estava andando na fábrica, nem senti tremer. Só depois que vi o que ocorreu em Miyagi e Fukushima”.
O trabalho no dia do terremoto também ocorreu normalmente para Fernando. Na semana seguinte é que começou a sequência de folgas. “Primeiro falaram que na segunda-feira não ia ter trabalho. Depois terça e quarta. Quinta a gente repôs um pouco do atrasado de antes do terremoto e na sexta folgamos de novo”, conta Fernando. Nas duas semanas após o terremoto ele trabalhou apenas três dias, sem horas extras.
Ele diz que aproveitou o tempo livre para ficar perto da esposa e dos filhos. Fernando explica que apesar de ter perdido dinheiro (o tempo parado vai lhe custar US$ 1,3 mil), a folga serviu para a família se tranquilizar depois do terremoto: “Minha esposa estava um pouco assustada, tal como a maioria dos brasileiros aqui no Japão. Agora a coisa está mais tranquila”.
Retorno
O brasileiro Carlos Eduardo Ishida não quis esperar a situação ficar mais tranquila no Japão. Ele e mais 11 membros da família resolveram antecipar a volta para a terra natal. “Alguns iriam voltar em junho. Outros iriam ficar um pouco mais. Mas com todos esees acontecimentos resolvemos antecipar a viagem”, conta Eduardo. A família Ishida retornou para o Brasil no dia 22 de março.
Dos nove adultos da família, apenas três trabalhariam na semana seguinte ao terremoto. Juntando esee fato ao medo de um novo desastre natural ou radioativo, a decisão da volta foi antecipada. Eduardo trabalhava na fábrica da Suzuki em Kosai (Shizuoka). A fábrica paralisou toda a produção por causa do racionamento de energia e falta de matéria-prima.
Outro brasileiro que trabalha na Suzuki de Kosai é Daniel Tomita. Mesmo com a folga inesperada, ele decidiu continuar no Japão. “Não quero voltar para o Brasil com o sentimento que precisava fazer mais alguma coisa aqui”, diz Daniel. Ele fica, mas a filha Lilian vai embora com a ex-esposa de Daniel. “Pelo clima que estava no pós-terremoto, acho que é até melhor ela ir mesmo”, explica o trabalhador brasileiro.
Fernando acredita que a folga serviu para tranquilizar a família |
O tempo sem trabalhar serviu para ele se despedir temporariamente da filha de dois anos, que viajou na terça-feira passada. “Nesses dias fizemos piquenique, passeamos no zoológico e curtimos muito”. No dia da viagem de Lilian, Daniel voltou a trabalhar. Mas esse período foi curto: na quinta-feira ele já estava de folga e sem previsão de quando iria retornar para a fábrica.
Edgard Matsuki, especial para a Gazeta do Povo
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