Presidente culpa médicos por explosão do número de implantes; entre 30 mil e 40 mil se submetem ao procedimento estético por ano
O cirurgião Peter Romer, que costumam operar candidatas ao Miss Venezuela, examina paciente em seu consultório em Caracas, na Venezuela |
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, é conhecido por ter expressado pouca paciência com atividades de lazer importadas como o golfe ou a degustação do uísque escocês. Agora ele tem demonstrado certa ira com uma outra prática que é amada na Venezuela: a cirurgia para aumento dos seios.
Em pronunciamento na TV estatal, Chávez disse que a culpa para a explosão no número desse tipo de cirurgia na Venezuela é dos médicos que "convencem algumas mulheres que se elas não tiverem seios grandes devem se sentir mal".
Para ele, é "algo monstruoso" que mulheres pobres passem pela cirurgia quando não conseguem nem mesmo arcar com as próprias despesas mensais. "O que é isso, meus amigos?!", Chávez questionou para os seus telespectadores.
Os comentários de Chávez acontecem no momento em que a Venezuela emerge como um dos principais mercados do mundo para a cirurgia para aumento dos seios. Entre 30 mil e 40 mil mulheres se submetem ao procedimento estético por ano, de acordo com estimativas da Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica.
Outdoors em Caracas anunciam empréstimos bancários para a cirurgia. Blogs de fofoca especulam sobre as melhorias feitas pelas candidatas do concurso Miss Venezuela. No ano passado, Gustavo Rojas, candidato à Assembleia Nacional, tentou financiar a sua campanha com uma rifa que tinha como prêmio uma cirurgia de aumento de seios. Ele perdeu.
"Eu nunca vi tanto silicone em qualquer outro lugar", Mireia Sallares, uma cineasta da Espanha, que se concentra em questões feministas e está trabalhando em um projeto sobre a Venezuela, disse ao jornal Tal Cual.
Dinheiro
Enquanto Chávez lamentou a quantidade de dinheiro gasto com cirurgias cosméticas, há também um lado mais sombrio dos procedimentos, com relatos de erros cirúrgicos que resultaram na morte de algumas pacientes. Paola Rio, de 20 anos, morreu em Caracas neste mês por causa de complicações em um cirurgia para aumento dos seios.
A posição de Chávez sobre algo tão arraigado na cultura popular da Venezuela provocou reações rápidas, principalmente dos profissionais da área médica. "Eu não acho que deveria haver qualquer tipo de discriminação contra esses procedimentos estéticos", disse Ramon Zapata Sirvent, um dos melhores cirurgiões plásticos do país.
Em um editorial mordaz sobre o assunto, o jornal da oposição El Nacional comparou Chávez a Muamar Kadafi, o líder líbio que considera o presidente venezuelano seu amigo. "Agora vem essa antiquada, militarista, atitude repressiva sobre a liberdade das mulheres em fazer o que quiserem com seus corpos", disse o El Nacional.
O presidente, no entanto, deixou claro que o aumento dos seios não combina muito bem com as suas prioridades revolucionárias. Ele disse que entre as milhares de cartas que recebe dos seus partidários, uma chegou a pedir sua ajuda para realizar tal cirurgia. "Eu acho que a cirurgia custa entre US$ 4,6 mil e US$ 7 mil", disse ele. "Claro que eu tive de rejeitá-la".
Os meios de comunicação do Estado concordaram com o presidente sobre o assunto. O jornal estatal Correo del Orinoco afirmou neste mês que a cirurgia plástica se tornou "tão comum quanto consultas ao dentista e não é incomum para pais ricos comprarem orgulhosamente implantes para suas filhas quando elas completam 15 anos de idade e se preparam para o ‘baile de debutante’”.
The New York Times
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